Minha lembrança mais antiga é quando tinha cerca de cinco anos, estou sentada na frente de uma casa é bonita, era uma rua dentro de outra rua, na época era que eu achava, hoje em dia eu sei que uma viela, to vestida como se fosse menininho, calça jeans, uma camisa do Sonic, um All-Star, senão fosse meus cabelos longos com certeza acharia que era um menininho.
Minha está naquela casa, já faz um tempo que ela entrou, e me deixou sozinha, essa não era primeira vez e nem era última que ela iria me abandonar por ai, hoje em dia eu vejo como minha mãe é uma cuzona, que fiz monte idiotice a tentar agradá-la. Ouço-a gritando, dizendo “A FILHA É SUA, ELA DEVERIA CONSERTAR TUDO”, o que diabos eu deveria conserta até hoje eu não sei, provavelmente vou morrer sem saber o que deveria consertar. Demoro um pouco ela para de gritar, isso deveria dar uma sensação de alivio em mim, mas isso me deixa mais assustada, mais aflita e mais monte de coisas que na época eu não saberia definir. Na real... Acho que não sei definir até hoje se passasse por isso novamente.
Ela finalmente sai da casa, eu me levanto e vou correndo até ela, levanto minhas mãozinhas como se quisesse abraça - lá, mas ela me ignorou... Como sempre ela fazia, me trata como se fosse uma coisa, treco qualquer, uma boneca com defeito, aquela sensação dói até agora, aquele sensação de rejeição existe dentro de mim até agora. Eu sei que tolice minha, mas é pedaço de mim que está vazio ainda, e sempre vai ter buraco que ela fez em mim.
Então ela vem até mim, se agacha, passa mão na minha cabeça, e com uma voz séria e rígida me diz “Adeus minha filha”, se levantou, virou se, e foi embora, foi a última vez que ela me abandonou. Eu não entendi o que acontecia minha volta, não entendia que tinha sido abandonada pela minha própria mãe, minha mãe... a mulher mais importante da minha vida, me deixou, sozinha, numa casa estranha, numa viela estranha, sem nada com que pudesse dizer que conhecia, ou era meu.
Eu deveria ter chorado, eu deveria ter corrido atrás dela, eu deveria ter gritado, eu deveria ter feito monte de coisas, mas eu não fiz nada, era apenas uma garota estúpida com medo, quando do por mim, a porta da casa se abre, sai um homem de bigode, cabelo curto e cacheado, pele morena, com barrigona, parecia que estava até grávido. Ele veio até mim, também se agachou. Meu na boa, eu O-D-E-I-O isso, quer dizer odiava, sabe se está em lugar, pessoa baixa só pra ti olhar nos olhos, como se fosse um gnomo, duende ou uma fada, porém isso ficou no passado, agora sou tipo uma Ana Hickman + Cyndi Lauper + Tinta Preta, lógico que tudo isso versão mais brasileirada, pobre e com litros de álcool no sangue.
O cara do bigode me abraça fortemente, sentia como se alguém me aplicasse algum golpe de quebrar ossos, ouço a voz dele, que tanto... tanto melosa e mesmo tempo acolhedora “Aimee, eu sou seu pai”.
E foi assim primeira vez que eu vi meu pai.
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